sábado, 18 de novembro de 2023

Do amor que não veio e sufis girantes


A resposta demorou e o sinal amarelo foi aceso em minh'alma. Sem afobação, falamos para nós mesmos, mas as coisas do coração não funcionam assim — não seriam do coração se não fossem afobadas. Enfim a resposta veio mas polida, quase seca. Foi então que compreendi que não, que o Amor não viria. Isso na quarta. Na sexta já nos amassávamos no cruzamento sob as luzes da fachada da farmácia. O Amor veio, enfim. Se ficará? Do sábado em diante tudo são cinzas mornas. O Amor tem seus próprios caminhos. Nada resta; apenas a impressão indelével de que não é mesmo para mim.

quarta-feira, 6 de setembro de 2023

O rosto de pedra e visões no espelho


É ainda escuro quando desperto. O sono fugiu para longe apesar de minhas tentativas de agarrá-lo pelos calcanhares, batendo suas asas notívagas janela afora. Pois bem, mister sono; tenho outras formas de me ocupar até a aurora. Façamos um exercício de imaginação criativa junguiano, que tal? Antes o banimento inicial: quatro colunas de fogo e fumaça me cercam, o sigilo de proteção ativado, o rosnado do animal de poder. Magickamente equipado, retorno ao monumento do sonho que tive na semana passada, um colossal rosto de pedra de elmo grego encravado na Presidente Vargas. Contemplo o portento. O mistério permanece — está aí desde épocas imemoriais, dissera o guia turístico evocado do mesmo sonho. 

sexta-feira, 28 de julho de 2023

A dança no reino das pedras. E de heroísmo.


Quando operei a tireoide sonhei com uma entidade que habitava um mundo de pedras — calcárias, brancas, um reino de giz de quadro-escolar — e usava máscara, das tribais. Dançava e agitava o maracá, talvez usasse guizos na canela mas o tempo apagou os detalhes oníricos. Eu tinha levado o "On the road" de Kerouac para ler no hospital mas evidentemente não consegui. Já em casa, ainda sob os efeitos dos anestésicos, eis o sonho com a entidade-de-máscara-guizo-e-reino-de-pedra-branca.

sexta-feira, 12 de maio de 2023

De rascunhos e oceanos


Eu deveria ter escrito isto no final do ano — afinal, tenho anotado aqui nos rascunhos coisas como "Carta do dia - O Sol", "Início do verão - 21 de dezembro" e "Comunismo solar". São ideias que se imbricam, portanto. Sobre o comunismo solar se trata de uma referência a Löwy e seu ecossocialismo, o futuro, tolos chamarão utópico, do pleno aflorar das potencialidades humanas em um planeta ecologicamente restaurado. Não é possível falar em socialismo nestas tumultuosas primeiras décadas do século XXI sem que se lhe grafe em letras verde-primavera.