sábado, 10 de dezembro de 2022

As filhas do rei da Turquia. E sobre liberdade.


Busco as encantarias do Nordeste. Aquele sacerdote em trajes mouros paira sobre minha cabeça; o manto, escarlate, tem bordados em ouro e esmeralda. Usa turbante tal como imame dos Ahl al-Bayt fosse. Nos dedos de rei Salomão, aneis das pedrarias mais diversas – agrada-me o vermelho escuro como vinho, e também o azul cor de mar e, apesar dos rápidos gestos, percebo o amarelo luz de manhã.

terça-feira, 18 de outubro de 2022

De velas e manhãs. E o trânsito das estações.


No Facebook, postei Coração-de-corvo do povo Mandan das Grandes Planícies e sonhei com três espíritos totêmicos. Rostos graves e austeros, algo de incisivo, cada qual coberto de tinta — azul, amarelo e vermelho. Um recado cada um, uma frase, um lembrete, uma lição. Escusado dizer que ao acordar não me lembrava de rigorosamente nenhuma palavra do que me diziam. 

segunda-feira, 6 de junho de 2022

Caminhos de prata. E do tempo relativo.


Ao longo do asfalto, gotas de cinza tinta. Parecia um caminho salpicado de prata, como são na imaginação aqueles que levam a castelos de reis ou outros portentos de contos de fadas. Sincronicamente, ao virar a esquina já é o ouro de carambolas amarelas pelo chão. Há uma caramboleira por perto. Não sou exatamente fã da fruta — às vezes trago para casa para fazer suco para meu filho, mas é raro. Porém sempre admirei o formato estrelado e, agora, ao passar pela calçada de carambolas caídas, me sinto transitando por uma via láctea de ouro.
 

segunda-feira, 21 de março de 2022

De capturas da alma


Navego pelas ruas de Jacarepaguá, como sobre o dorso de camelos. A caminho do Anil, após o supermercado, há uma larga calçada com gramado e árvores enormes. Deixei meu filho na escola e passei por lá em uma gloriosa manhã ensolarada. Nada em especial, um dia de semana qualquer, carros e pessoas em sua labuta cotidiana. Foi quando ao passar pela calçada do gramado senti aquilo. Tentarei explicar na medida do possível. Foi uma espécie de golpe, mas na alma, como, imagino eu, é a sensação de morrer. A alma prestes a alçar voo, uma sensação entre o desmaio e a maior lucidez possível, algo de nós partindo e sendo portanto necessária a maior firmeza de espírito para não deixá-lo fugir.