Meus outros espaços


Escrever (e blogar!) é preciso
viver não é preciso
(à moda de Pessoa)

Este blog é fruto da necessidade, que venho sentindo há tempos, de concentrar meus textos espalhados. Será, por assim dizer, meu blog "oficial", o definitivo. Mas toda minha outra produção online continuará no ar e atualizada.

O Elogio da Dialética foi minha primeira incursão no universo blogueiro, em 2006- quase uma década e meia, portanto. O título é retirado de um poema de Brecht citado na descrição. Tive as dificuldades próprias de qualquer iniciante e aos poucos fui me adaptando à ferramenta: formatação, inclusão de links e imagens, quebra de parágrafos etc. No primeiro mês de postagens, a luta palestina, Henry Miller, Exupéry, Trotsky e Thoreau. A frequência nas publicações sofreu altos e baixos, conforme meus "brancos" de inspiração, como em 2007 quando só houve três postagens. Através do blog cresci intelectual e pessoalmente e fiz muitas amizades (a maioria ficou pelo caminho ao longo desses anos, infelizmente), até que optei por encerrá-lo em 2011, por senti-lo esgotado, por assim dizer, com pouquíssima interação do público e consequentemente a impressão de estar falando sozinho. Ao reler os textos antigos fico satisfeito em perceber o quanto mantive a coerência nas minhas posições: da minha opção socialista, em especial trotskysta, à busca pela dimensão emancipadora da religião e a crítica cabal dos fundamentalismos- antecipando em alguns anos a abordagem que eu teria do Islã quando passei a me dedicar ao tema. Por outro lado, em alguns textos há um tom esquerdista -no sentido da denúncia leniniana- do qual já não compartilho. Merecem menção também os textos de teor literário, ensaios sobre cultura pop e reflexões sobre a vida em geral. Reler esse material sempre me traz uma nostalgia doce.

O Nova Dialética foi o sucessor direto -daí o nome- do anterior. Consegui adotar um tom leve e humorado no início, com textos curtos sobre o cotidiano e cultura em geral, mas conforme aprofundava minhas leituras marxistas (mais participação febril em grupos de discussão nas redes sociais!), o blog se tornou o espaço natural para que eu desenvolvesse conceitos e assim foi adquirindo uma feição mais militante. Escrevi textos sobre o caráter do socialismo chinês, anarquismo, Coreia do Norte, a natureza do Estado Operário soviético e conselhismo, dentre outros. Ao lado da política, reflexões sobre Direito, sociedade, costumes e religião- nesse último ponto, cabe um reparo quando olho em retrospectiva. A época de "Nova Dialética" coincidiu com um período de ateísmo que perdurou certo tempo. É nesse contexto que o post (em duas partes) "Minha filosofia" deve ser entendido: sigo sustentando as linhas gerais do texto, salvo a negativa peremptória da transcendentalidade. Não que eu tenha aderido a uma firme convicção oposta e me tornado um carola, mas ao longo desses anos passei por experiências pessoais relevantes -o nascimento de meus filhos e a perda de um deles e meu contato com o Islã- que, dentro de um processo que, como é a regra nesses casos, é estritamente pessoal e subjetivo, me levaram a uma reaproximação com a ideia metafísica. Assim creio ter encontrado uma síntese dialética entre crença e descrença no caoísmo, a abordagem mágicka que melhor me fala à razão e onde meu agnosticismo -se for esse o nome- pode se locomover à vontade. Mas, de volta ao blog, encontrou seu término quando também pareceu, como seu "pai", exaurido. O fecho foi de ouro, digamos assim, com o texto explicativo de minha ruptura com o PCB em outubro de 2014, ainda hoje entre os dez posts mais visitados no blog. Em março de 2015 voltei a atualizá-lo, mas não conta- apenas reproduzi um texto do "Espaço Marxista", e esse é o capítulo seguinte.

Nada pode ser mais explícito que o nome, Espaço Marxista. Se o "Nova Dialética" tinha feição militante, o "Espaço" o é totalmente. Encaminho o leitor ao próprio blog para compreender sua natureza e proposta (mais que um blog, tornou-se em dado momento um coletivo com vida orgânica). Evidentemente será desinteressante para pessoas que não se situem política e ideologicamente nesse campo do espectro político- ainda que, mesmo que por mero espírito investigativo e sede intelectual, seja enriquecedor e recomendável sair da zona de conforto e conhecer o diferente. É uma diretriz que sigo para mim: bons sítios de direita me interessam, ainda que, e falo sem o menor espírito de cizânia, sejam raríssimos.

Mas nem tudo é política.

Textos de cunho literário são encontrados nos blogs citados acima, mas alimentei ambientes exclusivos para flanar literariamente. O Escrita Vulgar foi meu primeiro voo nesse sentido. O nome é um tributo a Bukowski, que eu lia bastante na época, e cujo estilo cru e direto tentei emular no início. Em razão dos textos (majoritariamente prosa mas não poucos versos) serem em primeira pessoa fui estranhamente acossado por pessoas próximas, ávidas para saber o que daquilo era real ou ficção. Evidentemente como escritor me reservo o direito de não elucidar certas coisas- prefiro que o leitor tire suas próprias conclusões e, se aquilo soa real para ele, que seja. Fui obrigado a colocar um trecho de Buk à moda de frontispício, "This story is fiction...", mas não nutriu muito efeito. Tendo em vista que os textos tratavam basicamente de dor de cotovelo e estados melancólicos de espírito, em todo caso acho compreensível essa preocupação com o meu eu lírico e em certa medida me sinto grato. Foi no "Escrita Vulgar" que hospedei meu primeiro "livro" de poemas, um PDF capenga feito por mim mesmo que reúne minha produção poética até meados dos anos 2000.

Mas também o "Escrita Vulgar" morreu, longa vida a Outras Vulgaridades! Já aqui exclusivamente em versos, livres, como eu gosto, soltos, urbanos, curtos, pornográficos- mas que, a despeito da forma, exigiram de mim sua dose de sofrimento criativo. Evito ao máximo reler o poema dedicado ao meu filho Glauco, por exemplo. Anos depois ainda é impossível para mim revisitar aqueles dias sem me abalar. E o abalo lírico se espraia pelo blog sob várias facetas, intimistas em sua maioria absoluta, e também sob a pena dos outros- porque no "Outras Vulgaridades" tenho reservado espaço para traduções de poemas alheios. Mais que traduções, convenhamos, versões e interpretações próprias de vates tão distantes quanto Arquíloco de Paros e Ibn al-Arabi, cujo "Tarjuman al-Ashwaq" pretendo fazer na íntegra. Se tais poemas parecem fracos, deixemos claro então e a propósito, não é culpa de seus venerandos autores, mas de seu limitado intérprete.

O Platitudes Banais nasceu sob a necessidade, conforme digo no post introdutório, "de produzir posts curtos, mais ágeis, ou mesmo simples comentários de matérias e fragmentos alheios". A intenção era escrever diariamente (e mesmo várias vezes ao dia!) mas falhei, é claro, apesar de estar lá bom material, traduções inclusive (os sufis e o tributo de Kevin Higgins a Trotsky, por exemplo), de modo que também sinto muito carinho por esse blog.

Tenho também dois blogs para públicos bem segmentados.

O Oceano da Paz é meu blog islâmico. Nasceu em 2015, na esteira da minha reaproximação com al-Islam no ano anterior, no processo particular já comentado acima. É um espaço que desagradará ortodoxos: militante social que sou, minha abordagem islâmica não poderia ser outra senão a de dar voz a linhas dissidentes e alternativas. É portanto um espaço para o Islã de esquerda, heterodoxo, contestador, LGBT e assim por diante. São em sua maioria textos traduzidos e adaptados, com algum conteúdo próprio (minhas considerações sobre wudu e magia, por exemplo), e também poesia e música. Gosto muito do "Oceano da Paz" e gostaria de atualizá-lo com mais frequência, insha'Allah.

Já o Juspublicista, por fim, é meu blog jurídico. A princípio voltado para o Direito Público -minha área de interesse acadêmico- mas acabou por se tornar uma grande geleia metajurídica, daí sua descrição como "Direito Público e trivialidades". Segue sendo todavia um blog com foco específico, de modo que pode ser irrelevante para jejunos nas ciências jurídicas.

Enfim, tal é minha "carreira" blogueira. Este aqui será doravante, como dito, a "âncora" disso. Será um prazer trocar ideias e receber feedback e comentários, que podem ser enviados para jltejo@gmail.com.

Atualização (07/ 09/ 2020). O Espaço Marxista foi descontinuado, conforme falo neste post de despedida. E dei início ao Opinião Dissonante, para textos do campo do marxismo e afins.

Atualização (08/ 08/ 2023). O Juspublicista foi descontinuado. Explico o motivo aqui.