sábado, 2 de janeiro de 2021

Sociedade de classes e mares agitados


Na sociedade capitalista a importância do "ter" é levada ao paroxismo. Muito já se falou sobre isso e me reporto a Marx na Miséria da filosofia (1847): em nossa época, é mais fácil produzir o supérfluo do que o necessário. É uma cultura de desperdício. De Marx pra cá só piorou, evidentemente. Tempos de obsolescência programada, de produzir para quebrar para então produzir novamente. E comprarmos de novo. O planeta não aguenta esse ritmo. Vai se exaurindo, consumido, chupado até o último suspiro. Não adianta aqui trocar a sanha produtivista capitalista por outra, socialista ou supostamente socialista — a URSS no passado e a China de hoje representam os mesmos padrões ecologicamente deletérios. Pois não se trata aqui de emular o capitalismo e de dar ao produtivismo uma cor "vermelha", e sim de colocar em xeque o próprio produtivismo. Falo aqui portanto na abordagem ecossocialista, a única que permitirá o desabrochar, com toda a pertinência da analogia botânica, da sociedade nova do futuro.